Quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos em novembro, muitos alertaram que o México seria um dos países mais afetados. Alguns até disseram que seria “o mais afetado”.
A agenda econômica protecionista e linha dura do republicano em matéria de segurança e migração parecia uma espécie de condenação para um país que, nestas áreas e em muitas outras, depende dos interesses de Washington.
E embora o México continue vulnerável ao seu poderoso vizinho do norte, a presidente do país, Claudia Sheinbaum, conseguiu, pelo menos até agora, não só conter o impacto das políticas de Trump, como também transformá-las em oportunidades.
Na quinta-feira (6/3), os dois líderes chegaram a um novo acordo para suspender por um mês as tarifas dos EUA sobre as exportações mexicanas, prioridade de Sheinbaum, e trabalhar em conjunto no combate ao tráfico de fentanil e à migração ilegal, as grandes obsessões de Trump.
E Sheinbaum respondeu: “Tivemos um telefonema excelente e respeitoso, no qual concordamos que nosso trabalho e colaboração produziram resultados sem precedentes”.
As diferenças entre Trump e Sheinbaum são notáveis: ele é conservador, de masculinidade forte, crítico da ciência, imprevisível e disruptivo nas políticas e discursos; Ela, por outro lado, é feminista, moderada, científica e cuidadosa nos métodos, nas palavras e nas políticas públicas.
Eles são diferentes, antagônicos, mas as trocas de adjetivos positivos se repetem constantemente nas declarações de ambos: “Tenho um grande respeito por ela”; “é preciso destacar que o tratamento tem sido muito respeitoso”, disse Trump.
Como é que Sheinbaum, cuja popularidade subiu para sem precedentes 85% entre os mexicanos, conseguiu transformar o que até agora parecia uma tempestade perfeita em uma oportunidade?
Em suas declarações, Sheinbaum insiste que “cooperação não é subordinação”, e que “o tratamento é entre iguais”.
Na terça-feira, quando Trump impôs as tarifas, a presidente disse que anunciaria as medidas de resposta em um grande evento na Zócalo, a emblemática praça no centro da capital.
As tarifas agora foram suspensas, mas o evento continua de pé:
“Vamos fazer um festival, vamos comemorar a conquista deste acordo, e vamos convidar grupos musicais para comemorar”, anunciou a presidente com um sorriso na quinta-feira.
“Venham, conterrâneos, venham que nós abraçamos vocês, vocês são o melhor que nosso país tem”, ela acrescentou, se referindo aos camponeses que já haviam se programado para participar do evento na capital.
Como se não bastasse ter o apoio de 8 em cada 10 mexicanos, Sheinbaum vai dobrar a aposta nacionalista. Talvez, então, sejam quatro coelhos que ela está tentando matar com uma cajadada só diante da ameaça de Trump. (COM BBC NEWS BRASIL)
Edição: Cinara Marques/Tribuna Nordeste