Com Agência Reuters e BBC News Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (4/11) que o governo federal quer fazer uma investigação paralela sobre a operação policial realizada na última semana nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.
A operação, que tinha como objetivo conter a expansão do Comando Vermelho, é considerada a mais letal já realizada no Brasil. Segundo dados oficiais, 121 pessoas morreram, entre elas quatro policiais.
Movimentos de direitos humanos classificam a ação como uma chacina e questionam sua eficácia como política de segurança. O grande número de vítimas também foi criticado pelo Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que se disse “horrorizado” com a operação nas favelas.
Em entrevista concedida em Belém, no Pará, onde será realizada a COP30, Lula declarou que “houve uma matança”.
“A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve uma matança. Eu acho que é importante a gente ver em que condições ela se deu”, afirmou.
“Nós, inclusive, estamos tentando ver se é possível os legistas da Polícia Federal participarem do processo de investigação da morte, e como é que foi feito.”
Na última semana, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) pediram explicações do governador do Rio de Janeiro sobre a operação policial, considerando, entre outros pontos, sua alta letalidade.
Um grupo de especialistas da ONU também cobrou uma investigação independente e imediata, dizendo que a ação da polícia pode constituir “homicídios ilegais”.
No domingo (2/11), a Polícia divulgou uma lista com os nomes dos mortos durante a operação e afirmou que “mais de 95% dos identificados tinham ligação comprovada com o Comando Vermelho e 54% eram de fora do Estado”.
Segundo o governo, 59 das pessoas mortas tinham mandados de prisão pendentes, pelo menos 97 apresentavam históricos criminais relevantes.

17 dos mortos identificados não apresentavam histórico criminal, mas, segundo a polícia, “12 apresentaram indícios de participação no tráfico em suas redes sociais”.
“O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas, do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa”, disse nesta terça-feira (04/11).
O presidente já tinha se manifestado sobre o assunto nas redes sociais.
Em uma publicação no X, na quarta-feira, ele cobrou ações policiais sem risco para policiais e famílias e exaltou uma operação do governo, em agosto, contra o Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, disse Lula.
“Foi exatamente o que fizemos em agosto na maior operação contra o crime organizado da história do país, que chegou ao coração financeiro de uma grande quadrilha envolvida em venda de drogas, adulteração de combustível e lavagem de dinheiro.”

