Soldados da Coreia do Norte receberam identidades russas falsas, diz Ucrânia

Soldados da Coreia do Norte que estavam lutando pela Rússia receberam documentos militares falsos com nomes e locais de nascimento russos, disseram os militares ucranianos, em meio a acusações de que o governo de Vladimir Putin está tentando esconder a presença de combatentes estrangeiros no campo de batalha.

As forças de operações especiais da Ucrânia afirmaram em um comunicado no domingo (22) que mataram três soldados norte-coreanos na região de Kursk, no oeste da Rússia, e apreenderam seus documentos.

As identificações militares “não têm todos os carimbos e fotos, os sobrenomes são fornecidos à maneira russa e o local de nascimento é assinado como República de Tuva”, destaca a nota, referindo-se a uma região russa no sul da Sibéria, na fronteira com a Mongólia.

Mas as assinaturas nos documentos estão em coreano, o que “indica a origem real desses soldados”, acrescentou o comunicado.

“Este caso confirma mais uma vez que a Rússia está recorrendo a todos os meios para esconder suas perdas no campo de batalha e ocultar a presença estrangeira”, alegam os militares ucranianos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz que a Rússia está tentando esconder as perdas de tropas norte-coreanas no campo de batalha, recorrendo a táticas extremas para disfarçar a identidade dos militares mortos em combate.

“Os russos estão tentando… literalmente queimar os rostos dos soldados norte-coreanos mortos em batalha”, acusou Zelensky em uma declaração no X em 17 de dezembro, com um vídeo que mostraria soldados russos ateando fogo aos corpos de militares da Coreia do Norte.

Norte-coreanos lutam em Kursk, dizem autoridades

Estimativas da inteligência dos Estados Unidos, Ucrânia e Coreia do Sul indicam que há entre 11 e 12 mil soldados norte-coreanos, alguns dos quais já realizaram operações de combate ao lado de dezenas de milhares de forças russas para ajudar a recuperar partes de Kursk que foram tomadas pelos ucranianos.

As tropas da Coreia do Norte teriam sofrido pesadas perdas na região, de acordo com autoridades dos EUA e da Ucrânia.

Uma autoridade sênior americana pontuou que a Coreia do Norte teve “várias centenas” de vítimas — tanto mortas quanto feridas — em Kursk desde outubro.

Um congressista da Coreia do Sul comentou que cerca de 100 soldados norte-coreanos teriam sido mortos e quase 1.000 feridos desde que foram enviados a Kursk, de acordo com a agência de inteligência do país.

As forças especiais da Ucrânia disseram em 17 de dezembro que, em apenas três dias, 50 soldados da Coreia do Norte foram mortos e 47 feridos enquanto lutavam ao lado de tropas russas em Kursk.

Uma unidade ucraniana relatou que os norte-coreanos — usando uniformes diferentes dos russos — lançaram ataques de infantaria usando as “mesmas táticas de 70 anos atrás”, em uma aparente referência à Guerra da Coreia, na qual ondas de infantaria foram usadas.

Nem Rússia, nem Coreia do Norte reconheceram oficialmente a presença de tropas norte-coreanas no campo de batalha.

Em outro caso, um contingente ucraniano de que utiliza drones postou um vídeo em 15 de dezembro supostamente mostrando os corpos de mais de 20 soldados norte-coreanos. A qualidade do vídeo não era boa o suficiente para verificar as identidades.

O tenente Andriі Kovalenko, um funcionário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, afirmou que a unidade ucraniana fez o vídeo antes que a Rússia pudesse retirar os corpos.

“Eles tentam esconder o envolvimento de norte-coreanos em operações específicas o máximo possível. Portanto, eles geralmente colocam esses corpos em uma fileira, então veículos rastreados chegam e levam os corpos embora”, comentou Kovalenko à agência de notícias estatal ucraniana Ukrinform.

Entenda a guerra entre Rússia e Ucrânia

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin.

Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada. A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.

Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.

As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.

O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.

A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.

O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.

*Yoonjung Seo, da CNN, contribuiu para esta reportagem

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