*Por Miguel Paiva, 247
No Brasil prolifera a categoria pobre de direita. Depois que a educação política sumiu das nossas vidas a direita assumiu um glamour especial que a esquerda não tem. Tudo que é coletivo não tem charme, não atrai a admiração das pessoas, não vira mentira. Ser rico, não importa como, passou a ser a grande meta, o grande sonho de todas as pessoas. Uma pessoa rica é a mais admirada. Não importa como o dinheiro surgiu, se foi de modo desonesto, esperto ou enganando muita gente é ainda mais admirado.
Num país em que os avanços sociais que continuam acontecendo perderam a característica de conquista coletiva, a riqueza desmedida, a ostentação e a prosperidade assumem características individuais de talento, de escolha divina, de mérito planetário, de algo que você tem que continuar correndo atrás, de preferência acreditando em deus.
As prisões de Deolane Bezerra e Gusttavo Lima, ostentadores de primeira, mostram isso através da reação das pessoas. Os fãs foram para a porta do presídio onde recolheram a influenciadora para protestar. No caso de Gusttavo, nem foi preciso. Da sua mansão na Flórida ele ficou sabendo da revogação da prisão.
Esse destino que poucos conseguem, para essa gente é um objetivo atingível, é uma espécie de prêmio para a obediência e resignação. Fique quietinho que você vai ser recompensado. Não proteste, não fale alto, não reclame e sobretudo, não forme grupinhos na esquina para discutir a realidade. Depois, é só votar nessa gente rica ou que defende os ricos que esse esquema será garantido.
A riqueza traz uma característica de sucesso, de realização, de capacidade que produz admiração ao invés de inveja. A admiração não produz qualquer reflexão. Ela provoca um estado de letargia que aceita o mundo como ele é. Se eu não consigo é porque me falta alguma coisa ou deus assim preferiu.
Nada mais cômodo para um sistema que quer exatamente isso. Poucos ricos vivendo às custas de muitos pobres sorridentes e passivos. Já vi isso antes e se não fizermos alguma coisa para que a educação política volte, continuaremos a ver.
Jornalista e Escritor*
